Terapias Complementares

TERAPEUTA NATURAL

Partindo da concepção de Leloup (1998), que enfatiza que o Terapeuta Natural é aquele que cuida do “SER” em todas as suas dimensões (corporal, psíquica e espiritual), ou seja, da sua integralidade, chega-se à concepção do que seja um terapeuta natural.
 

A palavra ‘natural’ soma-se à palavra ‘terapeuta’ no sentido de retomar as idéias dos cuidados que acompanharam a espécie humana. Sabe-se que os tratamentos que pertencem às terapias naturais são, provavelmente, tão antigos quanto à espécie humana. Entretanto, nos últimos 200 anos, muitas dessas terapias naturais foram esquecidas devido ao progresso da moderna medicina científica (tecnicista, racionalista, especialista), tendo uma ação direta na formação e na prática dos profissionais que se destinam a cuidar de seres humanos.

Então, nos primórdios da humanidade, os cuidados eram feitos segundo o ciclo da vida natural, portanto, atrelados aos fenômenos da natureza (clima, ciclo da terra, ciclo da lua, dos planetas...). Essa natureza era tanto interna (sintonia) quanto externa (sincronia) com o outro e o cosmos. Esses cuidados eram prestados por um “SER” que se percebia integrado à natureza, aceitava seu potencial intuitivo, sem negar o estudo aprofundado dos elementos que a natureza terra e lua, sobretudo, forneciam-lhe.
 
 Com o avanço gradual e progressivo da razão, deixando de lado tudo o que é da ordem da emoção, do sensível, da intuição, porque não é passível de se explicar, o cuidado gradativamente e progressivamente ficou ao encargo daqueles que dominavam a escrita, e o saber dito científico (racional). Como conseqüência desse inegável avanço científico e tecnológico, houve um distanciamento maior da interação pessoa a pessoa, e desvalorização dos processos naturais.
 
As pessoas, dando-se conta da nocividade e da artificialidade do seu processo de viver, retomaram a prática das terapias naturais como meio de atingir uma melhor qualidade de vida.

O ser humano não é simplesmente uma máquina física, mas uma sutil e complexa combinação de corpo, de mente, de espírito e de natureza, sendo que todos ou qualquer um desses fatores em desequilíbrio podem causar problemas de saúde ou contribuir para que eles ocorram.
 
Ora, se o cuidador de saúde é uma pessoa vista dentro dessa compreensão, seu preparo para a ação de cuidar não pode ser dissociado, dessa complexa relação: ser humano – natureza – saúde. Logo, sua formação precisa recuperar a natureza como elemento forte no processo de cuidar: a pessoa não pode ser cuidada isoladamente por seus sintomas físicos a partir de uma padronização de soluções indistintas de suas condições emocionais, sociais, espirituais. Cada pessoa é um ser completamente original e individual, que não pode ser cuidado exatamente da mesma maneira que outra pessoa foi. Da mesma forma, um cuidador é uma pessoa original e individual que não pode ser ‘moldada’ exatamente da mesma maneira que outro cuidador. Ele possui crenças e valores que interferem na sua compreensão sobre ser humano, saúde e cuidado. Se esse cuidador acredita que existe uma força natural de cura no universo; 
  •  Como ele pode negligenciar a sua crença no ato de cuidar?
  •  Como ele pode fazer de conta que o próprio ser humano não é uma força potencializadora de cura?
  •  Como ele pode negar a influência do ambiente no processo de cuidar?
  •  Como ele pode ignorar a fé do outro em algo maior que o simples ato medicamentoso de cuidar?
  •  Como ele pode impor uma forma de cuidar sem colocar-se no lugar do outro?
Das reflexões acima, estruturou-se a concepção do Terapeuta Natural como sendo aquele que cuida do ser humano na sua integralidade sem negar a sua própria integralidade, buscando a todo o momento entrar em sintonia consigo mesmo para sincronizar-se com o Cosmo e com o outro.

Assim sendo, ele coloca-se como um elemento mediador entre a grande Fonte de Energia Cósmica e a grande fonte de energia do próprio cliente. Logo, estabelece uma comunicação para a ação (cuidado) de “SER” para “SER”.
 
Sua tarefa é cuidar, já que a natureza é quem cura: 
Antes de tudo cuidar do que não é doente em nós, do ser, do sopro que nos habita e inspira. Também cuidar do corpo, templo do espírito, cuidar do desejo, reorientando-o para o essencial; cuidar do imaginal das grandes imagens arquetípicas que estruturam a nossa consciência e cuidar do outro [...] (LELOUP, 1998, p. 9-10). 
A comunicação de “SER” para “SER”, entende-se como a comunicação de essência para essência. A poesia a seguir demonstra como o ser humano no seu cotidiano passa cada vez mais se distanciar de sua essência: 
Apertam-me a garganta para que eu não grite, e eu não grito; 
Matam-me a criança que em mim ensaia um sorriso, e eu não sorrio; 
Pisam-me os calos pra que eu não me alegre, e eu não me alegro; 
Chamam-me de bobo quando faço graça, e eu não me descontraio; 
Fazem-me gracejos quando a dor me dilacera o peito, 
Para que eu não chore, e eu não choro; 
Convencem-me que faz mal sentir saudades, e eu não sinto saudades; 
Ensinam-me que é feio ficar triste, e eu não entristeço; 
Dizem-me para amar quando sinto ódio, e eu não odeio; 
Cobram-me a competição e o desamor, 
Quando quero apenas amar, eu não amo. 
Depois, onipotentes, vêm-me falar 
De minha apatia, 
De mina impotência, 
De minha falta de energia, 
De minha insensatez, 
De minha frigidez, 
De minha insensibilidade, 
E com já não mais lhes entendo a linguagem, 
E como já não mais faço parte do mundo deles, 
E como já não mais percebo a realidade, 
Rotulam-me um nome qualquer 
E me marginalizam em uma das prateleiras da vida. 
(Poesia de José Roberto da Silva Fonseca)